Com o propósito de acessar ambientes historicamente masculinos para educar para o combate à violência contra a mulher, a campanha “#EuTôNaDefesa”, do Governo do Ceará, tem seu primeiro ato neste domingo (5), durante o Clássico-Rei na Arena Castelão. Ceará e Fortaleza se enfrentam às 18h30, pela 6ª rodada da Copa do Nordeste.
A campanha é coordenada pela Secretaria das Mulheres, comandada pela vice-governadora Jade Romero. Conta com a parceria do Fortaleza Esporte Clube, do Ceará Sporting Club e das entidades que regem o futebol estadual e nacional.
— Gostaria de agradecer aos clubes, à Federação Cearense de Futebol e à Confederação Brasileira de Futebol pela disponibilidade e pela sensibilidade de atuar nessa pauta tão importante. Que a gente possa utilizar a força que tem o futebol e o diálogo com as torcidas para promover essa conscientização em relação à questão do enfrentamento da violência contra as mulheres - agradeceu Jade Romero.
— Essa ação no estádio se mostra ainda mais importante porque pesquisas mostram que, em dias de jogos, infelizmente, aumenta essa violência. Então é importante que possamos estar unidos, homens e mulheres nessa pauta, que é uma pauta da sociedade. Justiça social para as mulheres é justiça social para todos - ressaltou a vice-governadora.
Os times deram início à ação antes mesmo de entrarem em campo. Com foco no ambiente digital, a escalação dos times chegou às redes sociais com todos os jogadores em posição de defesa, com a hashtag da campanha: #EuTôNaDefesa.
A segunda etapa ocorre no gramado com os times entrando em campo carregando uma faixa com a frase: “Vamos jogar juntos na defesa. Diga não à violência contra a mulher”. Na camisa, o número 180, que acolhe denúncias, e a chamada oficial da campanha: EuTôNaDefesa.
Durante o jogo, o capitão de cada equipe terá a braçadeira lilás com o número 180 grafado. Do lado do Fortaleza, o zagueiro Titi é quem comanda este momento.
DADOS
Pesquisa realizada pelo Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) ligou diretamente a violência contra mulher a resultados indesejados de partidas de futebol. O estudo mostrou que os registros de violência doméstica contra as mulheres crescem, pelo menos, 7% quando os times de futebol não alcançam os resultados esperados.
O estudo realizou a comparação de boletins de ocorrência em 737 municípios de São Paulo e 92 do Rio de Janeiro e cruzou os dados com o calendário de jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol das séries A e B, entre os anos de 2015 e 2019.
Em outro estudo, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou que nos dias em que o time da cidade joga, o número de ameaças contra mulheres aumenta 23,7% e o número de lesão corporal dolosa, no contexto de violência doméstica, sobe 20,8% em relação a dias sem partidas de futebol. O balanço considerou jogos do Campeonato Brasileiro, entre 2015 e 2018, e crimes sofridos por mulheres nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Bahia e Minas Gerais.
Esse lamentável contexto não é um cenário isolado brasileiro. A organização britânica Women's Aid alerta que “o aumento do consumo de álcool e altos níveis de emoção associados a grandes partidas de futebol podem aumentar a gravidade e a frequência de situações de violência doméstica existentes”, com base em estudo da Universidade de Bristol, na Inglaterra. A pesquisa britânica mostra, com base em dados de Copas do Mundo (2002, 2006 e 2010) um aumento médio de 26% em violência doméstica no condado inglês de Lancashire nos dias em que a Inglaterra ganhou ou empatou e de 38% quando perdeu.